Registos/Níveis de língua
Os níveis de língua são variedades de realizações da língua. A utilização que o emissor faz do código
varia consoante:
·
as suas intenções
·
o seu nível sociocultural
·
a situação de comunicação
·
os receptores a quem se dirige
daí que
existam vários níveis de língua.
LÍNGUA LITERÁRIA
LÍNGUA CUIDADA
LÍNGUA PADRÃO
LÍNGUA FAMILIAR
LÍNGUA POPULAR
1.
Língua
literária
Fala-se também em língua
literária, mas esta não é considerada um nível de língua. Resulta de uma
preocupação artística e não se orienta para a comunicação prática. Recorre
muitas vezes aos diversos níveis de língua, embora seja frequente fixar-se na
língua cuidada.
O emissor utiliza um vocabulário muito rico e
sugestivo; procura elaborar imagens e efeitos rítmicos e sonoros; constrói
frases muito elaboradas.
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Uso:
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Código oral
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sermões; discursos
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Código escrito
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obras literárias
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Exemplos: (...)
2.
Língua
cuidada
É
aquela em que o emissor procura uma expressão bem elaborada. Caracteriza-se
pela procura da perfeição estrutural e pela precisão vocabular. Preocupa‑se com
o valor estético:
O emissor utiliza vocabulário escolhido: menos
vulgar, mais rico; preocupa-se com a construção das frases (construção
frásica elaborada).
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Uso:
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Código oral
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escrita de carácter literário, discursos; comunicações,
conferências, etc.
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Código escrito
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Cartas técnicas e comerciais e documentos oficiais;
crónicas jornalísticas
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Exemplos:
"Respeitemos a memória dos nossos avós: memoremos
piedosamente os actos deles: mas não os incitemos. Não sejamos, à luz do século
XIX, espectros a que dá uma vida emprestada o espírito do século XVI. A esse
espírito mortal oponhamos francamente o espírito moderno. " (Antero de Quental, Causas da Decadência dos Povos Peninsulares)
Pareceu que
cumpria, enquanto os povos lutam nas revoluções, e antes que nós mesmos tomemos
nelas o nosso lugar, estudar serenamente a significação dessas ideias e a
legitimidade desses interesses.
(Programa das Conferências do Casino, Lisboa, 16 de
Maio de 1871)
3.
Língua
corrente (média ou normal)
É aquela que se orienta para a maioria dos membros de uma
comunidade linguística, independentemente do seu nível sociocultural. Usa
termos e estruturas correntes de acordo com a norma. Por isso se considera a
língua padrão.
Corresponde à norma (acessível à maioria das
pessoas). O emissor utiliza uma linguagem simples mas correcta,
constituída por palavras, expressões e construções mais usuais.
Vocabulário usual, ao alcance de todos.
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Uso:
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Código oral
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rádio; televisão; conversação
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Código escrito
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comunicações escritas comuns; imprensa
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Exemplos:
"Todos
têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de
acesso e êxito escolar.
(Constituição da República, art. 74)
Grande
prosador e poeta, personalidade marcante do neo-realismo, que resistiu à
tendência panfletária» pela sobriedade e encanto da sua narrativa e poesia -
assim pode sintetizar-se a opinião de figuras prestigiadas das nossas letras
sobre Manuel da Fonseca, ontem falecido.
(Ana
Marques Gastão, in Diário de Notícias, 12/03/93)
4.
Língua
familiar
Caracteriza‑se por ser usada nas relações do quotidiano,
entre familiares ou amigos. O vocabulário é pouco rigoroso e pode conter
significados só compreendidos pelo próprios intervenientes.
O emissor utiliza um vocabulário usual (muito
simples e pouco variado); constrói frases muito simplificadas.
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Uso:
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Código oral
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conversação informal
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Código escrito
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Cartas particulares; na linguagem literária, se
procura reproduzir a língua falada
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Exemplos:
1
Olá, Pedro!
Penso muito em
vocês: na São, no Manecas e na tua mamã. Envia novas daí.
Quando começar a trabalheira
das aulas eu te contarei outras coisas.
Tua amiga,
Zé
2
_ Deus
te abençoe.
_ Pai, olhe que o Sultão...
Bem sei! (...) 0 Sultão é um maroto e tu és outro.
(Trindade Coelho, «Sultão», in Os
Meus Amores)
5.
Língua
popular
As suas características
resultam de uma certa despreocupação com construções sintácticas e correcção do
vocabulário. É marcadamente oral e espontânea. Como desvio da norma, adquire
muitas vezes características próprias, permitindo diferentes formas de
realização.
O emissor utiliza um vocabulário pitoresco;
constrói frases por vezes incorrectas.
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Uso:
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Código oral
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conversação
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Código escrito
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textos literários que pretendem reproduzir esta
língua
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5.1.
Regionalismos
Vocábulos/expressões
ou falares característicos de certas
regiões do País.
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Uso:
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Código oral
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Exemplos:
"Mãis o prove do Valantim, era bum. Ah!... bum antão! Aquilo nã tinha
ruindade pra ninguém... Era só aquele seu levante, aquela pancada alta... E, se
fazia o mal, era só lá pra ele. Pois Vossioria nã que ver que negou sempre, a
pés juntos, que me tinha visto ali, no meio da sarrafusca?! "
(Vitorino Nemésio, Quatro Prisões Debaixo de Armas)
5.2.
Gírias
Expressões ou falares característicos de certos
grupos profissionais e sociais.
Vocábulos
ou expressões próprios de determinados grupos (estudantes, futebolistas,
lavradores, etc.).
Exemplos:
_ Ó pá,
os profes deram‑te feriado?
_
Não... Tive de fazer cábulas para o teste. Tenho de acabar com a nega...
(Diálogo de estudantes)
‑ Aí vai um saco, ó tu! É pràs «rabeiras».
Que não fique nem um grão, ouviram? E aviar, toca a aviar! Cautela que não
fique por aí alguma coisa esquecida: essas pás, esses «baleios», tudo isso!
Margarida! ó Margarida, qué da tua rasa?
(Trindade Coelho, «Sultão», in Os
Meus Amores)
5.3.
Calão
Expressões ou formas
marginais, que resultam de situações particulares. Vocabulário grosseiro.
Exemplos:
‑ Os gajos estão tramados... Aquele cabrão vai-os lixar..
‑ 0 culpado foi aquele chulo que não trouxe a chave a tempo...
(Diálogo de operários)
6.
Língua
técnica e científica
É a que compreende termos técnicos e/ou científicos.
Possuí uma terminologia própria de acordo com os referentes:
"Na busca de inteligência
artificial, os chips de silício, que movem os computadores de hoje, vão dar aos
biochips ‑ chips feitos de material biológico para imitar as reacções químicas
e eléctricas do cérebro. "
(Sérgio Vieira, in Semanário, 1990-02-03)
Atividade [1]
- 1
Atividade [1]
- 1
Transforme
as frases seguintes de acordo com o indicado:
1.
'tá porreiro isto! (uma festa)
familiar ______________________________________________________
corrente _____________________________________________________
cuidado ______________________________________________________
2. «Os mais velhos
costumam transformar a infância em bigorna» (José Gomes Ferreira)
Cuidado _____________________________________________________
Corrente _____________________________________________________
Familiar _____________________________________________________
Popular ______________________________________________________
3. «Nisto, dou com
um tipo a olhar-me de esguelha. Cá está um larápio, pensei eu» (Manuel da
Fonseca)
Corrente _____________________________________________________
Cuidado _____________________________________________________
Popular ______________________________________________________
4. O que xe xegue,
patrão: voxemexê quer ir ganhar a vidinha prà França, xem.papéis, é o que é. E
escolheu logo este xítio pra pular! Nem com ajas voxemexê paxava, entende? Nem
com ajas! Já avaliou bem a aurtitude daquela xerra? (Altino do Tojal)
Familiar _____________________________________________________
Corrente _____________________________________________________