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12 de janeiro de 2018

Meu Caro Amigo - uma canção em forma de carta cantada por Chico Buarque

Meu Caro Amigo - Chico Buarque de Hollanda 

Francis Hime / Chico Buarque 




Meu Caro Amigo


Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' rol
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão



Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' rol
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus


13 de novembro de 2017

Ouvir “Postal dos Correios”, uma canção do CD Rio Grande

“Postal dos Correios"





Postal dos Correios
Letra

Querida mãe, querido pai. Então que tal?
Nós andamos do jeito que Deus quer
Entre dias que passam menos mal
Lá vem um que nos dá mais que fazer

Mas falemos de coisas bem melhores
A Laurinda faz vestidos por medida
O rapaz estuda nos computadores
Dizem que é um emprego com saída

Cá chegou direitinha a encomenda
Pelo "expresso" que parou na Piedade
Pão de trigo e linguiça pra merenda
Sempre dá para enganar a saudade

Espero que não demorem a mandar
Novidades na volta do correio
A ribeira corre bem ou vai secar?
Como estão as oliveiras de candeio[1]?

Já não tenho mais assunto pra escrever
Cumprimentos ao nosso pessoal
[3 x :]
Um abraço deste que tanto vos quer
Sou capaz de ir aí pelo Natal



[1] - "candeio" – Regionalismo – Inflorescência de algumas árvores, como a oliveira ou o sobreiro. In Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.


Jorge Palma, Vitorino, Rui Veloso, Tim, João Gil


11 de janeiro de 2012

Todas as cartas de amor são ridículas - Maria Bethânia diz um poema de Fernando Pessoa que "escrevia, sem dar por isso, cartas de amor ridículas"

"Carta de Amor", por Maria Bethânia 

Vídeo oficial da faixa "Mensagem", do DVD "Carta de Amor" (no Youtube). 


“O show vem do disco, é a base de onde eu parti, da mudança sonora que fiz ali, com vários músicos. O título do show não se refere apenas à faixa do disco ´Carta de Amor´, mas a todo tipo de amor que canto no show: o amor maduro, o amor inconstante, o amor traído, o amor eterno, o passageiro, o triste, o alegre...”  - Maria Bethânia

Letra:

Quando o carteiro chegou 
E o meu nome gritou 
Com uma carta na mão 
Ante surpresa tão rude 
Nem sei como pude 
chegar ao portão

Lendo o envelope bonito 
O seu sobrescrito 
eu reconheci 
A mesma caligrafia 
que me disse um dia 
"Estou farto de ti"

Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: "será de alegria ou será de tristeza?"
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais


Todas as cartas de amor são ridículas
Não seriam cartas de amor, se não fossem ridículas
Também escrevi, no meu tempo, cartas de amor como as outras, ridículas
As cartas de amor, se há amor, têm que ser ridículas
Quem me dera o tempo em que eu escrevia, sem dar por isso, cartas de amor ridículas
Mas afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas



Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: "será de alegria ou será de tristeza?"
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais


Quanto a mim o amor passou
Eu só lhe peço que não faça como gente vulgar
E não me volte a cara quando passo por si
Nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor
Fiquemos um perante o outro
Como dois conhecidos desde a infância
Que se amaram um pouco quando meninos
Embora na vida adulta sigam outras afeições
Conserva-nos, escaninho da alma, a memória de seu amor antigo e inútil







"Todas as cartas de amor são / ridículas"

Poema de Fernando Pessoa
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

Álvaro de Campos / Fernando Pessoa, 21.10.1935.

In: Acção, Lisboa, n.º 41 (6.03.1937); reprod. em Poesias de Álvaro de Campos / Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
Fonte do texto: Arquivo Pessoa.