Notas:
- As palavras numeradas, de 1 a 13, correspondem às da atividade do manual de Português.
- As palavras mais antigas ou difíceis estão traduzidas e sinalizadas em itálico.
Ilustração no blogue "Contos de encantar". |
O Caçador
O caçador foi à caça,
A caça, como soía; [como
era costume]
Os cães já leva [1] cansados,
O falcão perdido havia.
Andando se lhe fez noite
Por uma mata [2] sombria,
Arrimou-se a uma
azinheira, [encostou-se a]
A mais alta que ali via.
Foi a levantar os olhos,
Viu coisa de maravilha:
No mais alto da ramada
Uma donzela tão [3] linda!
Dos cabelos da cabeça
A mesma árvore vestia,
Da luz dos olhos tão viva
Todo o bosque se alumia.
Ali falou a donzela,
Já vereis o que [4] dizia:
—
«Não te assustes, cavaleiro,
Não
tenhas tamanha frima. [impaciência]
Sou
filha de um rei c’roado,
De
uma bendita [5] rainha.
Sete
fadas me fadaram,
Nos
braços de mi madrinha,
Que
estivesse aqui sete anos,
Sete
anos e mais um dia;
Hoje
se acabam nos anos,
Amanhã
se conta o dia;
Leva-me,
por Deus to peço,
Leva
em tua [6] companhia.»
— «Espera-me aqui, donzela,
Té
amanhã, que é o dia;
Que
eu vou tomar conselho,
Conselho
com minha [7] tia.»
Responde agora a donzela,
Que bem que lhe
respondia!
— «Oh, mal haja o [8] cavaleiro,
Que
não teve cortesia:
Deixa
a menina no souto [mata;
bosque denso]
Sem
lhe fazer companhia!»
Ela ficou no seu [9] ramo,
Ele foi-se a ter coa
tia...
Já voltava o cavaleiro
Apenas que rompe o dia;
Corre por toda essa mata,
Donzela não respondia;
A enzinha não descobria. [azinheira]
Vai correndo e vai [10] chamando,Donzela não respondia;
Deitou os olhos ao longe,
Viu tanta cavalaria,
De senhores e [11] fidalgos
Muito grande tropelia. [agitação]
Levavam na linda infanta,
Que era já contado o dia.
O triste do cavaleiro
Por morto no chão [12] caía;
Mas já tornava aos
sentidos
E a mão à espada metia:
— «Oh, quem perdeu o que eu [13] perco
Grande penar merecia! [sofrimento]
Justiça faço em mim mesmo
E aqui me acabo coa
vida.»
In Romanceiro, compilado por Almeida
Garrett
(versão adaptada, a
partir do texto da ed. de
Lisboa: Círculo de Leitores, 1997.)
Encostou-se a uma azinheira...