14 de novembro de 2011

Padre António Viera in "Grandes Livros", RTP2

 
António Vieira, 1608-1697

 

 

Fonte: Programa "Grandes Livros" da RTP2

Neste episódio, seguindo o formato habitual, procede-se à análise da obra mais emblemática do escritor português, abrangendo aspetos como a estória, o contexto histórico, a importância que teve/tem, a história do autor. Nele participam os principais especialistas na obra e/ou no autor em análise, contemplando igualmente recriações do autor e da sua obra. 

Nota. A organização deste texto em três partes - 1) O autor, 2) A obra e 3) O programa - é da minha responsabilidade. 


1 - O autor

Padre António Vieira


A 6 de Fevereiro de 1608 nasce, em Lisboa, António Vieira.
Seu pai, Cristóvão Vieira Ravasco, após ter servido na marinha portuguesa, muda-se no ano seguinte para o Brasil, a fim de assumir o cargo de escrivão, em Salvador. Em 1614, a família sai de Portugal indo ao seu encontro. António Vieira tem 6 anos e faz os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas (em Salvador). Após um início pouco promissor, torna-se num aluno brilhante. Em Maio de 1623 ingressa, como noviço, na Companhia de Jesus.


Padre António Vieira

Padre António Vieira (actor: Jorge Oliveira)

No ano seguinte, depois da invasão neerlandesa de Salvador, inicia a sua vocação missionária. Com interesses diversificados, estuda Teologia, Lógica, Metafísica, Matemática e Artes, tendo mais tarde sido professor de Retórica. Em 1634, é ordenado sacerdote. Eram-lhe já atribuídas notáveis qualidades como  pregador.

Aquando da segunda invasão holandesa do Nordeste do Brasil, defendeu que Portugal deveria entregar aquele território ao inimigo, militarmente melhor apetrechado, argumentando que a sua manutenção era demasiado onerosa para os cofres do reino. 

Em 1641, após a Restauração da Independência que colocou um ponto final ao domínio Filipino em Portugal, regressa a Lisboa. Na Capital, conhece D. João IV e passa a ser depositário da sua amizade e confiança. É, também, nomeado pregador régio. Entretanto, inicia a carreira diplomática.

Homem de causas, padre António Vieira teve vários dissabores com a Inquisição devido a algumas posições por si assumidas, tais como a defesa dos judeus e dos direitos dos índios.

Anos mais tarde, regressa ao Brasil, país no qual permanece de 1652 a 61, e aí desenvolve a sua vocação enquanto missionário, no Maranhão e Grão-Pará.

Com a morte de D. João IV, torna-se confessor de D. Luísa de Gusmão. Mas as suas ideias proféticas acabam por torná-lo num alvo fácil da Inquisição, que acaba por ordenar a sua expulsão de Lisboa. Em 1667 é condenado e proibido de pregar, sentença que, meses depois, acabará por ser revogada. O seu próximo destino é Roma, aí permanecendo de 1669 a 1675. Nesse período, através dos seus discursos - considerados 'deslumbrantes' pela cúria - e das suas posições políticas, alcança o estatuto de 'intocável', o que lhe permite tecer críticas muito ferozes à actuação da Inquisição. Após o seu regresso a Portugal (em 1675), viaja, em 1681, para o Brasil. E ali permanece até à sua morte, a 18 de Julho de 1697, com 89 anos, em Salvador da Baía.

Detentor de uma extensa obra escrita - na qual se destacam os cerca de 200 semões, 700 cartas, «A história do futuro» ou «Clavis Prophetharum» -, padre António Vieira é considerado uma das figuras maiores das letras luso-brasileiras.

por: Grandes Livros

2 - A obra

Sermão de Santo António aos Peixes

Pregado no Maranhão (Brasil), a 13 de Junho de 1654, o Sermão de Santo António aos Peixes é um dos textos mais conhecidos de padre António Vieira. 
Sermão de Santo António aos Peixes
 
Padre António Vieira (actor: Jorge Oliveira)


Após a restauração da independência de Portugal face à coroa espanhola (1640), o sacerdote vem a Lisboa interceder junto do rei para que fossem criadas leis que garantissem um conjunto de direitos básicos aos índios brasileiros, vítimas da exploração e da ganância por parte dos colonos brancos.

Organizado em seis capítulos, o sermão divide-se em três partes: o Exórdio (Cap. I); a Exposição e a Confirmação (Cap.  II, III, IV e V); e a Peroração (Cap. VI).

No Exórdio, Padre António Vieira apresenta o conceito predicável - "Vós sois o sal da Terra" - e explica as razões pelas quais a terra está tão corrupta. E levanta várias hipóteses: ou a culpa está no sal (pregadores), ou na terra (ouvintes). Se a responsabilidade está no sal, é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou porque dizem uma coisa e fazem outra, ou porque se pregam a si e não a Cristo. Se a culpa está na terra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina, ou antes imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou porque servem os seus apetites e não os de Cristo.
 
Parte do princípio que a terra está corrupta e que a culpa é dos ouvintes. Consegue isto, uma vez que o sermão é proferido no dia de Santo António, aproveitando assim o exemplo deste. Santo António não obteve resultados da sua pregação e os homens até o quiseram matar, mas em vez de desistir resolveu pregar aos peixes. Vendo-se nessa posição, padre António Viera resolve seguir o exemplo inspirador do seu homónimo canonizado.

Esse recurso metafórico permite-lhe transferir, com mestria, toda a carga crítica do conteúdo da mensagem para um universo subaquático, organizado em camadas hierárquicas, tal como as sociedades humana. Recorrendo a várias espécies, alude à relação entre o Homem e o Divino, servindo as relações existentes entre os próprios peixes como motor para pregar as suas convicções. 

por: Grandes Livros

2 - O Programa

Está disponível, em 5 partes (1/5, 2/5; 3/5, 4/5, 5/5), no Youtube. Reconstituo aqui, sem ter visionado todas as 5 partes do programa, o documentário da RTP2. Em nome da aprendizagem e da cultura, espero que não levante problemas de direitos de autor. Boa viagem!

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2/5

3/5

4/5

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