António Vieira, 1608-1697
Fonte: Programa "Grandes Livros" da RTP2
Neste episódio, seguindo o formato habitual, procede-se à análise da obra mais emblemática do escritor português, abrangendo aspetos como a estória, o contexto histórico, a importância que teve/tem, a história do autor. Nele participam os principais especialistas na obra e/ou no autor em análise, contemplando igualmente recriações do autor e da sua obra.
Nota. A organização deste texto em três partes - 1) O autor, 2) A obra e 3) O programa - é da minha responsabilidade.
1 - O autor
Padre António Vieira
A 6 de Fevereiro de 1608 nasce, em Lisboa, António Vieira.
Seu pai, Cristóvão Vieira Ravasco, após ter servido na marinha portuguesa, muda-se no ano seguinte para o Brasil, a fim de assumir o cargo de escrivão, em Salvador. Em 1614, a família sai de Portugal indo ao seu encontro. António Vieira tem 6 anos e faz os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas (em Salvador). Após um início pouco promissor, torna-se num aluno brilhante. Em Maio de 1623 ingressa, como noviço, na Companhia de Jesus.
Seu pai, Cristóvão Vieira Ravasco, após ter servido na marinha portuguesa, muda-se no ano seguinte para o Brasil, a fim de assumir o cargo de escrivão, em Salvador. Em 1614, a família sai de Portugal indo ao seu encontro. António Vieira tem 6 anos e faz os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas (em Salvador). Após um início pouco promissor, torna-se num aluno brilhante. Em Maio de 1623 ingressa, como noviço, na Companhia de Jesus.
Padre António Vieira (actor: Jorge Oliveira)
No ano seguinte, depois da invasão neerlandesa de Salvador, inicia a
sua vocação missionária. Com interesses diversificados, estuda Teologia,
Lógica, Metafísica, Matemática e Artes, tendo mais tarde sido professor
de Retórica. Em 1634, é ordenado sacerdote. Eram-lhe já atribuídas
notáveis qualidades como pregador.
Aquando da segunda invasão holandesa do Nordeste do Brasil, defendeu
que Portugal deveria entregar aquele território ao inimigo, militarmente
melhor apetrechado, argumentando que a sua manutenção era demasiado
onerosa para os cofres do reino.
Em 1641, após a Restauração da Independência que colocou um ponto
final ao domínio Filipino em Portugal, regressa a Lisboa. Na Capital,
conhece D. João IV e passa a ser depositário da sua amizade e confiança.
É, também, nomeado pregador régio. Entretanto, inicia a carreira
diplomática.
Homem de causas, padre António Vieira teve vários dissabores com a
Inquisição devido a algumas posições por si assumidas, tais como a
defesa dos judeus e dos direitos dos índios.
Anos mais tarde, regressa ao Brasil, país no qual permanece de 1652 a
61, e aí desenvolve a sua vocação enquanto missionário, no Maranhão e
Grão-Pará.
Com a morte de D. João IV, torna-se confessor de D. Luísa de Gusmão.
Mas as suas ideias proféticas acabam por torná-lo num alvo fácil da
Inquisição, que acaba por ordenar a sua expulsão de Lisboa. Em 1667 é
condenado e proibido de pregar, sentença que, meses depois, acabará por
ser revogada. O seu próximo destino é Roma, aí permanecendo de 1669 a
1675. Nesse período, através dos seus discursos - considerados
'deslumbrantes' pela cúria - e das suas posições políticas, alcança o
estatuto de 'intocável', o que lhe permite tecer críticas muito ferozes à
actuação da Inquisição. Após o seu regresso a Portugal (em 1675),
viaja, em 1681, para o Brasil. E ali permanece até à sua morte, a 18 de
Julho de 1697, com 89 anos, em Salvador da Baía.
Detentor de uma extensa obra escrita - na qual se destacam os cerca
de 200 semões, 700 cartas, «A história do futuro» ou «Clavis
Prophetharum» -, padre António Vieira é considerado uma das figuras
maiores das letras luso-brasileiras.
por:
Grandes Livros
2 - A obra
Sermão de Santo António aos Peixes
Pregado no Maranhão (Brasil), a 13 de Junho de 1654, o Sermão de Santo
António aos Peixes é um dos textos mais conhecidos de padre António
Vieira.
Padre António Vieira (actor: Jorge Oliveira)
Após a restauração da independência de Portugal face à coroa
espanhola (1640), o sacerdote vem a Lisboa interceder junto do rei para
que fossem criadas leis que garantissem um conjunto de direitos básicos
aos índios brasileiros, vítimas da exploração e da ganância por parte
dos colonos brancos.
Organizado em seis capítulos, o sermão divide-se em três partes: o
Exórdio (Cap. I); a Exposição e a Confirmação (Cap. II, III, IV e V); e
a Peroração (Cap. VI).
No Exórdio, Padre António Vieira apresenta o conceito predicável -
"Vós sois o sal da Terra" - e explica as razões pelas quais a terra está
tão corrupta. E levanta várias hipóteses: ou a culpa está no sal
(pregadores), ou na terra (ouvintes). Se a responsabilidade está no sal,
é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou porque
dizem uma coisa e fazem outra, ou porque se pregam a si e não a Cristo.
Se a culpa está na terra, é porque os ouvintes não querem receber a
doutrina, ou antes imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou
porque servem os seus apetites e não os de Cristo.
Parte do princípio
que a terra está corrupta e que a culpa é dos ouvintes. Consegue isto,
uma vez que o sermão é proferido no dia de Santo António, aproveitando
assim o exemplo deste. Santo António não obteve resultados da sua
pregação e os homens até o quiseram matar, mas em vez de desistir
resolveu pregar aos peixes. Vendo-se nessa posição, padre António Viera
resolve seguir o exemplo inspirador do seu homónimo canonizado.
Esse recurso metafórico permite-lhe transferir, com mestria, toda a
carga crítica do conteúdo da mensagem para um universo subaquático,
organizado em camadas hierárquicas, tal como as sociedades humana.
Recorrendo a várias espécies, alude à relação entre o Homem e o Divino,
servindo as relações existentes entre os próprios peixes como motor para
pregar as suas convicções.
por:
Grandes Livros
Está disponível, em 5 partes (1/5, 2/5; 3/5, 4/5, 5/5), no Youtube. Reconstituo aqui, sem ter visionado todas as 5 partes do programa, o documentário da RTP2. Em nome da aprendizagem e da cultura, espero que não levante problemas de direitos de autor. Boa viagem!
5/5