25 de abril de 2019

Lista de toda a obra de José Saramago



A obra

  • 1947 – Terra do Pecado. – romance. – Lisboa: Minerva. / Porto: Porto Ed., 2015.
  • 1966 – Os poemas possíveis. – poesia. – Lisboa: Portugália. / 2.ª ed., rev. emendada, Lisboa: caminho, 1982. / Porto: Porto Ed., 2014.
  • 1970 – Provavelmente alegria. – poesia. – Lisboa: Livros Horizonte. / 2.ª ed., rev. emendada, Lisboa: caminho, 1985. / Porto: Porto Ed., 2014.
  • 1971 – Deste mundo e do outro. – crónicas. – Lisboa: Arcádia. / 8.ª ed., Alfragide: Caminho, imp. 2010.
  • 1973 – A bagagem do viajante. – crónicas. – Lisboa: Futura. / Porto: Porto Ed., 2018.
  • 1974 – As opiniões que o DL teve. – crónicas [no Diário de Lisboa]. – Lisboa: Seara Nova.
  • 1975 – O ano de 1993. – poesia. – Lisboa: Futura. / 3.ª ed., Lisboa: Caminho, imp. 2007.
  • 1976 – Manual de pintura e caligrafia. – romance. – Lisboa: Moraes. / Porto: Porto Ed., 2014.
  • 1976 – Os apontamentos. – crónicas. – Lisboa: Seara Nova. / Porto: Porto Ed., 2014.
  • 1978 – Objecto quase. – contos. – Lisboa: Moraes. / 6.ª ed., Lisboa: Caminho, 1984.
  • 1979 – Poética dos cinco sentidos: la dame à la licorne. – crónica, em obra coletiva. – Lisboa: Bertrand.
  • 1979 – A noite. – teatro. Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2014.
  • 1980 – Levantado do chão. – romance. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2014.
  • 1980 – Que farei com este livro?. – teatro. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2015.
  • 1981 – Viagem a Portugal. – livro de viagens. – Lisboa: Círculo de Leitores. – ed. cartonada; il. com fotografias. /  Lisboa: Caminho, 1984. / 14.ª ed., Lisboa: Caminho, 2003. –    – Lisboa: Círculo de Leitores, 1999. – ed. brochada, não ilustrada. / Lisboa: Caminho, 1990. / 24.ª ed., Lisboa: caminho, 2011. / 25.ª ed., Porto: Porto Ed. – 1.ª ed. nesta Ed.
  • 1982 – Memorial do convento. – romance. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2014. / Reimpr., 2015.
  • 1984 – O ano da morte de Ricardo Reis. – romance. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2016.
  • 1986 – A jangada de pedra. – romance. – Lisboa: Caminho. / 16.ª ed., 2010. / Porto: Porto Ed., 2015.
  • 1987 – A segunda vida de Francisco de Assis. – teatro. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2018.
  • 1989 – História do Cerco de Lisboa. – romance. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2018.
  • 1991 – O Evangelho segundo Jesus Cristo. – romance. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2016.
  • 1993 – In nomine Dei. – teatro. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2018.
  • 1994 – Cadernos de Lanzarote I. – diário. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2016.
  • 1995 – Cadernos de Lanzarote II. – diário. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2016.
  • 1995 – Ensaio sobre a cegueira. – romance. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2016.
  • 1996 – Moby Dick em Lisboa. – crónicas. – Seleção de crónicas dos livros Deste mundo e do outro (1971) e A bagagem do viajante (1973). – Lisboa: Pavilhão de Portugal Expo'98 : Assírio & Alvim.
  • 1998 – Cadernos de Lanzarote III. – diário. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2016.
  • 1998 – Cadernos de Lanzarote IV. – diário. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2016.
  • 1997 – Todos os nomes. – romance.
  • 1997 – O conto da ilha desconhecida. – conto. – Des. Pedro Cabrita Reis. Lisboa: Pavilhão de Portugal - Expo'98 : Assírio & Alvim. /  Lisboa : Caminho, 1999. – Il. Bartolomeu dos Santos. / Porto: Porto Ed., 2015. –   il. Fátima Ramos. / 17.ª ed., 2018.
  • 1998 – Cadernos de Lanzarote V. – diário. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2014. / Alfragide: Leya, 2016. /  Lisboa: Guerra & Paz, 2017.
  • 1999 – Discursos de Estocolmo. – Lisboa: Caminho.
  • 1999 – Folhas políticas: 1976-1998. – crónicas. – Lisboa: Caminho.
  • 2000 – A caverna. – romance. – Lisboa: Caminho. / Porto: Porto Ed., 2014.
  • 2000 – Aquí soy Zapatista: Saramago em Bellas Artes.
  • 2001 – A maior flor do mundo. – história infanto-juvenil.
  • 2002 – Andrea Mantegna: un'etica, un'estetica.
  • 2002 – O homem duplicado. – romance.
  • 2004 – Ensaio sobre a lucidez. – romance.
  • 2005 –  As intermitências da morte. – romance.
  • 2005 – Don Giovanni ou o dissoluto absolvido. – teatro.
  • 2006As pequenas memórias. – autobiografia.
  • 2007El nombre y la cosa. – ensaio.
  • 2008A viagem do elefante. – romance.
  • 2009Caim. – romance.
  • 2009O caderno. – textos escritos para o blog, set. 2008 - mar. 2009.
  • 2009O caderno 2. – textos escritos para o blog, mar. - nov. 2009.
  • 2010 – José Saramago nas suas palavras. – Catálogo de reflexões pessoais, literárias e políticas. Elaborado a partir de declarações do autor recolhidas na imprensa escrita. – Ed. e sel. Fernando Gómez Aguilera.
  • 2011 – Clarabóia. – romance.
  • 2011 – O silêncio da água. – fábula infantil, autobiográfica. – Il. Manuel Estrada. Alfragide: Caminho.
  • 2013 – A estátua e a pedra: o autor explica-se. – Ed. bilingue em português e espanhol. Rev. Fundação José Saramago. Lisboa: Fundação José Saramago.
  • 2014 – Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas. – As últimas páginas escritas por José Saramago. – Com ensaios de Roberto Saviano, Fernando Gómez Aguilera e Luiz Eduardo Soares; il. Günter Grass. Porto: Porto Ed. 
  • 2017 – Com o mar por meio: uma amizade em cartas / José Saramago e Jorge Amado. – Correspondência. – Sel., org. e notas Paloma Jorge Amado, Bete Capinan, Ricardo Viel. [S.l.] : Companhia das Letras.
  • 2018 – Último caderno de Lanzarote. – crónicas.Livro de crónicas escrito em 1998, ano de atribuição do Prémio Nobel de Literatura, e publicado postumamente em 2018.

Cânticos do realismo: o livro de Cesário Verde - Guião para o seu estudo

“A mim o que me rodeia é o que me preocupa"








DESTAQUE

Um lugar com muita informação, texto e imagens:


  • Cesário Verde (1855-1886) na Vida e na Obra”. – [Recurso electrónico] / concepção, pesquisa, texto, sel. iconográfica e composição Teresa Sobral Cunha ; webdesign Cecília Matos ; tratamento de imagem João Samouqueiro ; [ed. lit.] Biblioteca Nacional de Portugal. - Serviço em linha. - Lisboa : BNP, 2011. - Modo de acesso: World Wide Web: http://purl.pt/22529


Neste local, encontramos as seguintes secções:










Cânticos do realismo, de Cesário Verde - temas e caraterísticas formais


Alguns apontamentos:


Época – escola literária

Parnasianismo
Tendência na literatura que surge como uma reação antirromântica, sobretudo em França:  necessidade de objetivar ou despersonalizar a poesia. Em Portugal, Cesário Verde foi parnasiano na observação do real quotidiano e  no rigor formal dos seus textos. 


Realismo
A obra literária mostra a realidade tal como é, não como se imagina, e as personagens são observadas no meio social onde vivem, de forma objectiva e crua. Valoriza-se a descrição pormenorizada de cenários, ambientes e personagens.
Impressionismo
Valoriza a impressão pura, a percepção imediata, não intelectualizada. É fiel à primeira 
sensação. Não há interesse sobre o objecto em si, mas pelo efeito que provoca. A hipálage é frequente nas páginas impressionistas. 


Temas

·      Poetização do real : Captação das impressões causadas pela realidade; atenção voltada para o quotidiano; transmissão de perceções sensoriais.

·       Binómio cidade/campo: o contraste entre cidade/campo é um tema fundamental da poesia de Cesário.
O campo é visto como um espaço de refúgio, de saúde, de fertilidade e de vitalidade.
A cidade é um local de agitação, de progresso, mas também de opressão social, de melancolia, de doença, de morbidez (morte) e de aprisionamento:
Preferir o campo é valorizar o natural em detrimento do artificial, é valorizar um espaço de vida (saúde) e rejeitar um espaço de morte (doença). – Ver Anexo 1.

·       A oposição passado/presente: o passado é visto como um tempo de harmonia com a natureza, ao contrário do presente que se apresenta contaminado pelos nocividades da cidade (por ex., poema “Nós”).

·       A questão da inviabilidade do Amor na cidade.

·       A preocupação com as injustiças sociais: o poeta dá visibilidade e voz (coloca-se ao lado de) aos desfavorecidos, os 
injustiçados, os marginalizados e admira a força física, a pujança do povo trabalhador. Cesário Verde interessa-se pelo conflito social quer do campo quer da cidade, procurando documentá-lo e analisá-lo, embora sem interferir. – Ver Anexo  3.

·       Nesse sentido, a poesia de Cesário expressa outros aspetos da vida menos comuns na lírica portuguesa: o inestético (o feio) e o vulgar, a realidade trivial e quotidiana.

·       O sentimento anti-burguês.

·       A presença obsessiva da figura feminina, percepcionada de diferentes modos: (1) negativamente, porque contaminada pela civilização urbana (= a mulher opressora, a “femme-fatale”); 
(2) positivamente, pois está associada ao campo e aos seus valores (mulher-anjo, mulher 
regeneradora, mulher oprimida, como sinédoque do social); (3) como objeto de estímulo erótico: ela é estímulo dos sentidos carnais ou sensuais (a mulher-objeto). – Ver Anexo 2.

Caraterísticas realistas

·       Poesia estimulada pelo real: o poeta inspira-se no mundo externo, material e concreto. 

·       A seleção temática “realista”: a dureza do trabalho; a doença e a injustiça social; etc. 

·       As “cenas” apresentadas são situadas no espaço (com predomínio do cenário urbano) e no tempo (por vezes, com presença do real histórico: a referência a Camões e o contexto sociopolítico).
·       Uso da linguagem burguesa, popular, coloquial, rica em termos concretos. 

·       Atenção ao pormenor (realista). 


Modernidade da sua poesia:

A poesia de Cesário Verde, embora enquadrada na época da escola realista (Realismo), apresenta caraterísticas que o superam e anunciam já estéticas posteriores (Impressionismo, Modernismo, Surrealismo).
Nesse sentido, mais do que a representação do real, ao Poeta importa a impressão do real, que ultrapassa ou excede o real objetivo. Portanto, a realidade é mediatizada pelo olhar e a imaginação do poeta, que, a partir do real concreto, o transfigura, recria, reinventa (metamorfose). Recria, pois, uma super-realidade através da imaginação, num processo de reinvenção ou recontextualização precursora da estética surrealista.
Por outro lado, destaca-se o recurso à expressividade da sinestesia, isto é, ao cruzamento de várias sensações na apreensão do real, caraterística impressionista, que valoriza a sensação em detrimento do objecto real.

Caraterísticas formais e estilísticas:

“Se eu não morresse, nunca! E eternamente / buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!”
·       Regularidade métrica (preferência pelo decassílabo), estrófica (preferência pela quadra, que lhe permitia maior destreza no tratamento dos assuntos) e rimática – preocupação com a perfeição formal.
·       Expressão clara, objetiva e concreto.
·       Uso de vocabulário preciso e expressivo.
·       Rigor sintático, acentuado pelo uso de palavras entre vírgulas (precisão vocabular).
·       Recursos estilísticos: abundância de imagens, metáforas, comparações e sinestesias; a expressividade verbal [dos verbos]; a adjetivação abundante, rica e expressiva;
 o uso do 
diminutivo; a expressividade do advérbio; a hipálage; as aliterações (recursos fónicos que contribuem para a musicalidade).
 A utilização da ironia como forma de moderar ou estancar o sentimentalismo.
***
·       [Descrição] A sua técnica descritiva, muito visual e realista, está ao serviço da sua constante busca da expressão clara, objetiva e concreta: a perfeição formal.

·       [Prosaísmo ou objetividade] Certo prosaísmo lírico, uma poesia “realista”: descrições aparentemente pouco poéticas, pois o Poeta procura explorar a notação 
objetiva das graças e dos desagrados da vida da cidade ou a grande vitalidade da paisagem 
campestre.

·       [Narração] Os seus poemas geralmente apresentam uma estrutura narrativa, em que encontramos ações protagonizadas por figuras ou personagens (por ex., nos poemas: “Cristalizações”, “Deslumbramentos”, “Num bairro moderno”), em que estas são percepcionadas por um eu lírico (narrador) caminhante ou viajante (por ex., em “O sentimento dum ocidental”). Neste caso, estamos perante uma poesia deambulatória, itinerante (como em Bernardo Soares, o semi-heterónimo pessoano): a exploração do espaço é feita através de sucessivas deambulações, numa perspetiva de câmara de filmar em que se vão fixando/captando vários planos. Esse olhar itinerante e fragmentário, que reflete e expressa o passeio pela cidade, é geralmente situado num espaço e num tempo precisos.

·       Transfiguração da realidade: embora seja um poeta do real quotidiano, realidade que o inspira e o inquieta, Cesário tem momentos de fuga imaginativa, aproximando-se do impressionismo poético.

·       [Pintura – "pinto quadros por letras, por sinais", Cesário Verde.] Pintor-poeta, concretiza a realidade através do uso frequente de substantivos dispostos em adição (através da enumeração), mas sobretudo através do recurso a uma adjetivação abundante e expressiva (através da dupla e tripla adjetivação), ambos os recursos ao serviço de uma composição poética próxima do pictórico (por ex., “De tarde”).
Ainda nesta aproximação entre os poemas e a pintura, nota-se  o contraste luz/sombra: jogo lúdico de luz (natural, artificial ou emanada do objeto/ser observado) em que as imagens poéticas (de cintilações) valorizam e recriam a realidade ou a revelam no seu esplendor (por ex., no poema « O sentimento dum ocidental»).