“Sermão de Santo António aos peixes” (1654)
do Padre António Vieira
Compreensão/Interpretação 2 (p. 56) – cap. II
1. e 1.1. Está
presente a ironia na afirmação «Mas
esta dor é tão ordinária, que já pelo costume quase se não sente.» (ll. 4-5),
pois visa-se criticar os moradores do Maranhão que não acatavam a palavra do
pregador, ou seja, estavam insensíveis, indiferentes.
2. Relação
entre conceito predicável e estrutura do sermão. Esquema de acordo
como segundo parágrafo desta parte do sermão.
“Vos estis sal terrae”
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Propriedades do sal
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Propriedades das pregações
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1. “conservar
o são”
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3. “louvar o
bem”
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2.
“preservá-lo, para que se não corrompa”
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4.
“repreender o mal”
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↓
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Divisão da argumentação do sermão em dois momentos:
Primeiro momento: Louvor das virtudes dos peixes
Segundo momento: repreensão dos vícios dos peixes
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3. Elogio dos peixes pelo pregador:
Os peixes foram as primeiras criaturas que deus criou e foram os primeiros
animais a serem nomeados; existem em maior quantidade e atingem as maiores
proporções; ouviram de forma obediente e atenta a pregação de S. António; um
peixe (uma baleia) salvou Jonas e o levou às praias de Nínive, para que aí
pregasse e salvasse os homens; os peixes são os únicos animais que não se
deixam domesticar.
4. Críticas aos homens versus virtudes dos peixes:
- O milagre que levou os peixes a ocorrerem para
ouvir S. António sucedeu porque os homens, descontentes com as suas críticas, o
haviam perseguido.
- O milagre da balei que salvou a vida a Jonas
sucedeu porque os homens o haviam deitado ao mar.
- Segundo Vieira, é louvável que os peixes não se
deixem domesticar porque assim não serão contaminados pelos pecados dos homens.
5. e 5.1. Há um
jogo de palavras ou trocadilho na
frase «Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu
nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra» (ll. 69-71), pois faz-se
contrastar o significado literal de «entranhas» (o interior da barriga) e o
sentido da expressão idiomática «ter entranhas para» (ter coragem para). Deste
modo, reforça-se o contraste entre a brutalidade dos homens e a compaixão dos
animais, quando seria de esperar o inverso.
6. Quadro, de
acordo com o texto.
«cante-lhe aos
homens o rouxinol»
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«mas na sua
gaiola»
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«diga-lhe ditos o papagaio»
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«mas na sua cadeia»
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«vá com eles à caça o açor »
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«mas nas suas pioses»
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«faça-lhe bufonias o bugio»
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«mas no seu cepo»
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«contente-se o cão de lhes roer um osso»
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«mas levado onde não quer pela trela»
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«preze-se o boi de lhe chamarem formoso ou fidalgo»
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«mas com o jugo sobre a cerviz, puxando pelo arado e pelo
carro»
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«glorie-se o cavalo de mastigar freios dourados»
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«mas debaixo da vara e da espora»
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6.1. Paralelismo. Através da repetição da
estrutura de coordenação e do recurso a
uma oração coordenada adversativa, pretende-se salientar o grande inconveniente
que a proximidade com os homens traz aos animais: a perda da sua liberdade.
7. O argumento
de autoridade a que recorre Vieira para demonstrar que os peixes tiveram
vantagem em viver afastados dos homens é o exemplo de Santo António, o qual
também se afastou dos homens.