21 de fevereiro de 2012

Guião - Respostas ao questionário 3


“Sermão de Santo António aos peixes” (1654)
do Padre António Vieira




Compreensão/Interpretação 3 (pp. 62-63) – cap. III


1. Elogio dos peixes em particular. Esquema de acordo com o texto.

Identificação
do peixe
Virtude(s)
do peixe
Analogia com
Santo António
Crítica
aos homens
Peixe de Tobias
O fel do peixe curava a cegueira e o seu coração expulsava os demónios.
[fé/virtude; bondade]
S. António fazia os homens ver a virtude (Bem) e afastar-se do pecado (Mal).
Perseguiram S. António (tal como os moradores do Maranhão perseguem Vieira). Os homens não queriam ver a verdade e agiam com maldade.
Rémora
Apesar de ser pequeno, conseguia determinar o rumo da nau. 
[força (de vontade)]
A língua de S. António era uma rémora na terra – tinha força para dominar as paixões humanas: a soberba, a vingança, a cobiça e a sensualidade.
Os homens deixam-se levar pela soberba, a vingança, a cobiça e a sensualidade.
Torpedo
Faz tremer o braço do pescador .
[converter/mudar]
S. António também fazia os homens “tremer” e arrependerem-se.
Os pescadores representam aqueles que se aproveitam do poder para satisfazer a sua ganância.
Quatro-olhos
Tem dois pares de olhos: um olha para cima e o outro olha para baixo.
[visão/iluminação]
S. António também ensina aos homens que devem pensar no Céu e no Inferno.
No Brasil, muitas pessoas vivem na “cegueira”, i.e., em pecado, há muito tempo.


2. «Abri, abri estas entranhas; vede, vede este coração» (l. 52) - Com este pedido, o Padre António Vieira pretende que os moradores do Maranhão percebam que ele, à semelhança de Santo António (e do Peixe de Tobias), apenas pretende, no seu íntimo, curar a cegueira dos seus ouvintes e libertá-los do mal.

3. e 3.1. Os recursos estilísticos são a alegoria, a interrogação retórica e o paralelismo.
Como exemplo de alegoria e de interrogação retórica, temos:
«quantos, correndo Fortuna na nau Soberba, com as velas inchadas do vento e da mesma soberba (que também é vento), se iam desfazer nos baixos, que já rebentavam por proa, se a língua de António, como rémora, não tivesse mão no leme, até que as velas se amainassem, como mandava a razão, e cessasse a tempestade de fora e a de dentro?»
O paralelismo é evidente no excerto que se segue:
«quantos, embarcados na nau Vingança, com a artilharia abocada e os bota-fogos acesos, corriam enfunados a dar-se batalha, onde se queimariam ou deitariam a pique, se a rémora da língua de António lhe não detivesse a fúria, até que […], aliviados da carga injusta, escapassem do perigo e tomassem porto?»

Vieira recorre à alegoria (num sermão todo ele alegórico) para ilustrar de forma mais percetível ao seu auditório os pecados mais comuns e o modo como a língua de Santo António (e a sua própria) salva os pecadores. Esta alegoria surge combinada com a interrogação retórica e o paralelismo para reforçar a sua tentativa de cativar os ouvintes.



Exercício de vocabulário (do professor)

Relê os parágrafos referentes ao peixe Rémora (pp. 59-60). Em cada termo que se segue (a negro e à esquerda):
a) circunda uma das palavras à direita, a que tenha o valor mais aproximado da palavra usada no texto;
b) circunda a palavra à direita que é estranha ao significado da palavra usada no texto.

Nota: Todas as quatro hipóteses foram pesquisadas num dicionário de sinónimos.

Soberba (linha 74)         — altivez/arrogância/luxúria/vaidade
Vingança (linha 79)       — represália/ sofreguidão/ofensa/punição
Cobiça (linha 83)           — ambição/avidez/orgulho/ânsia
Sensualidade (linha 87) — castigo/volúpia/lascívia/lubricidade

4. Quadro, de acordo com o texto.

Naus
Elementos caracterizadores
Simbologia dos elementos caracterizadores
Efeitos da língua de Santo António
«Nau Soberba»
«velas inchadas do vento»
O vento simboliza o caráter vão do pecado da soberba, i.e., do orgulho desmedido
Leva as velas a amainarem e a tempestade interior e exterior a terminar
[1]
«Nau Vingança»
[2]
«artilharia abocada»; «bota-fogos acesos»; «enfunados»;
[3]
O arsenal de guerra pronto a disparar e o facto de avançarem «enfunados» simbolizam a fúria e a impetuosidade que arrastam as pessoas que se movem pelo desejo de vingança;
[4]
Detém a fúria, acaba com a ira e o ódio e faz a nau içar bandeiras de paz;
[5]
«Nau Cobiça»
[6]
«sobrecarregada até às gáveas»; «aberta com o peso por todas as costuras»; «incapaz de fugir, nem se defender»;
[7]
a carga excessiva simboliza o resultado da cobiça, que leva os homens a acumularem demasiados bens materiais;
[8]
Salva a nau (que, pela sua carga excessiva, não podia fugir nem defender-se) dos ataques dos corsários que a levariam a perder o que tinha e o que desejava obter;
[9]
«Nau Sensualidade»
[10]
«sempre navega com cerração, sem sol de dia, nem estrelas de noite»; os seus ocupantes navegam «enganados do canto das sereias»; «deix[a-se] levar da corrente»;
[11]
a cegueira e a desorientação simbolizam o que sucede aos que se deixam levar pela sensualidade – não tendo domínio sobre si próprios, caem facilmente em tentação;
[12]
Impede a nau de naufragar, levando os seus ocupantes a readquirirem a capacidade de ver e a voltarem a assumir o rumo certo.


4.1 Os peixes são louvados por alimentarem todos os que vivem em austeridade para chegarem ao Céu, os cristãos ao longo da Quaresma e o próprio Cristo depois de ter ressuscitado. Nos dias da semana em que devia ser praticada abstinência, as refeições podiam ser de peixe. Peixes como a sardinha garantem o sustento dos pobres.