"A Nau Catrineta", filme animado
baseado na banda desenhada de Artur Correia.
Avanca, Filmógrafo, 2012.
Avanca, Filmógrafo, 2012.
Criação gráfica digital e animação: Vítor Lopes
Criação gráfica original: Artur Correia
Narração: Fernando Mendonça
Criação gráfica original: Artur Correia
Narração: Fernando Mendonça
Música: Joaquim Pavão
Voz (música): Isabel Fernandes Pinto
Texto: Romance tradicional
compilado por Almeida Garrett
no Romanceiro.
Texto:
A Nau Catrineta
Lá
vem a Nau Catrineta
Que
tem muito que contar!
Ouvide
agora, senhores,
Uma
história de pasmar.
Passava
mais de ano e dia
Que
iam na volta do mar,
Já
não tinham que comer,
Já
não tinham que manjar.
Deitaram
sola de molho
Para
o outro dia jantar;
Mas
a sola era tão rija,
Que
a não puderam tragar.
Deitaram
sortes à ventura
Qual
se havia de matar;
Logo
foi cair a sorte
No
capitão general.
–
"Sobe, sobe, marujinho,
Àquele
mastro real,
Vê
se vês terras de Espanha,
As
praias de Portugal!"
–
"Não vejo terras de Espanha,
Nem
praias de Portugal;
Vejo
sete espadas nuas
Que
estão para te matar."
–
"Acima, acima, gajeiro,
Acima
ao tope real!
Olha
se enxergas Espanha,
Areias
de Portugal!"
–
"Alvíssaras, capitão,
Meu
capitão general!
Já
vejo terras de Espanha,
Areias
de Portugal!"
Mais
enxergo três meninas,
Debaixo
de um laranjal:
Uma
sentada a coser,
Outra
na roca a fiar,
A
mais formosa de todas
Está
no meio a chorar."
–
"Todas três são minhas filhas,
Oh!
quem mas dera abraçar!
A
mais formosa de todas
Contigo
a hei de casar."
–
"A vossa filha não quero,
Que
vos custou a criar."
–
"Dar-te-ei tanto dinheiro
Que
o não possas contar."
–
"Não quero o vosso dinheiro
Pois
vos custou a ganhar."
–
"Dou-te o meu cavalo branco,
Que
nunca houve outro igual."
–
"Guardai o vosso cavalo,
Que
vos custou a ensinar."
–
"Dar-te-ei a Catrineta,
Para
nela navegar."
–
"Não quero a Nau Catrineta,
Que
a não sei governar."
–
"Que queres tu, meu gajeiro,
Que
alvíssaras te hei de dar?"
–
"Capitão, quero a tua alma,
Para
comigo a levar!"
–
"Renego de ti, demónio,
Que
me estavas a tentar!
A
minha alma é só de Deus;
O
corpo dou eu ao mar."
Tomou-o
um anjo nos braços,
Não
no deixou afogar.
Deu
um estouro o demónio,
Acalmaram
vento e mar;
E
à noite a Nau Catrineta
Estava
em terra a varar.