22 de novembro de 2015

O mundo maravilhoso dos "Contos Tradicionais do Povo Português"

Contos Tradicionais do Povo Português 

organização de Teófilo Braga.
Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999. 
- 280 p., versão do vol. I  disponível aqui.



"A quinta edição dos Contos Tradicionais do Povo Português apresenta-se formalmente tal como o original de 1883, mas em dois volumes. 

[...] Nesta obra, Teófilo Braga apresentou ao leitor um conjunto de narrativas que constituem um valiosíssimo acervo de informação, principalmente para as áreas da antropologia e história das mentalidades, sobre as múltiplas manifestações das sociedades tradicionais. 

A concepção desta obra reflecte o carácter estruturante da problemática da identidade nacional na dupla vertente romântica e científica. A vertente romântica identifica-se no peso atribuído às versões literárias da tradição popular. O segundo volume reflecte melhor esta intenção, pois T. Braga perspectiva historicamente os reflexos dos contos populares na produção literária e erudita. 

Por outro lado, o autor também procura identificar e relacionar os vários grupos em que se divide a novelística portuguesa com a evolução do pensamento religioso. Assim, as fábulas, apólogos e anexins remontariam ao estádio feiticista; os contos e epopeias ao estádio politeísta; e os casos, as novelas e lendas, e os exemplos e parábolas ao estádio monoteísta. 

Posto isto, o autor ainda faz uma tentativa de identificação das origens étnicas dos diferentes géneros da novelística.

Estes campos do estudo apresentado por T. Braga, baseado na sua recolha, estão relacionados com a vertente científica, em que a etnogenia tem um lugar de destaque. 

[...] No primeiro volume, que constitui a primeira parte da recolha relacionada com os contos de fadas e casos da tradição popular, divide-se em contos míticos da aurora, sol e noite e em lendas e facécias da tradição popular. Quase todos os contos são identificados com o seu local de recolha."



1 de novembro de 2015

O SAPO E A RAPOSA – fábula e atividade


O sapo e a raposa resolveram e acordaram fazer uma sementeira a meias.
Fizeram a sementeira, debulharam-na e arranjaram um belo monte de trigo e outro de palha. Depois de tudo arranjado foram deitar-se nas suas camas. Logo de manhã ergueu-se a raposa e foi estar com o seu vizinho e compadre sapo e disse-lhe:
         — Compadre e amigo, venho fazer-lhe uma proposta vantajosa.
— Diga lá.
— Vamos ambos ao mesmo tempo até à eira, e o que lá chegar primeiro fica com o trigo todo.
  Olhe, minha comadre, fiz umas juras de nunca aceitar propostas sem ouvir os conselhos de um meu colega. Volte a comadre daqui a uma hora.
A raposa afastou-se e o sapo foi estar com outro sapo e expôs-lhe a proposta da raposa.
— A coisa arranja-se e a raposa há de cair, apesar da sua malícia —  respondeu-lhe o colega consultado.
— De que modo?
  Somos ambos iguais e tão semelhantes que a raposa já não é capaz de nos diferençar. Eu parto já para a eira e trato de ensacar o trigo. Tu vais estar com a raposa e, depois de longa discussão, aceitas a proposta. Não dês porém sinal de partida, enquanto eu não estiver na eira. Quanto à palha, podemos dar-lha toda; no entanto, vou esconder-lhe dentro um cão para bem a receber quando ela for tomar posse da palha.
O sapo ficou satisfeito com a lembrança do colega e foi para sua casa esperar a raposa. Esta não se demorou muito.
Discutiram ambos por algum tempo e no final o sapo fingiu que cedia. À hora marcada a raposa dirigiu-se para a eira de corrida. Quando chegou ali, já o sapo tinha o trigo metido nos sacos.
— Mas como andou o meu compadre tão depressa? —  observou a raposa, despeitada.
  Fiz das pernas coração, comadre — respondeu o sapo —, mas como sou muito seu amigo, cedo-lhe de boa vontade toda a palha, embora esta não entrasse no contrato.
A raposa, de bico caído, aceitou a proposta e dirigiu-se para o monte da palha a experimentar se estava bem moída. Salta de lá o cão e deu-lhe tamanha corrida que a raposa morreu arrebentada.
Ataíde de Oliveira (recolha),
in Contos tradicionais portugueses
Vol. 1, Porto: Figueirinhas, 1975.


ATIVIDADE - A MORAL DA HISTÓRIA

(do manual, p. 24)


Discute com os teus colegas a moralidade (lição moral) da fábula “O sapo e a raposa”.
Proposta de discussão a partir dos seguintes provérbios (podes acrescentar mais):

1
Quem ri por último ri melhor.
 2
Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão.
 3
Com raposa é bom ser manhoso.
 4
Sabe muito a raposa, mas quem a apanha sabe mais.
 5
Mais vale engenho que força.



aqui outra versão desta fábula, reescrita por António Torrado e ilustrada por Cristina Malaquias.