9 de março de 2012

Teste de Português, 11º ano, sobre o «Sermão de Santo António aos Peixes» - RESPOSTAS


GRUPO I – LEITURA (40 pontos)

1.      Este excerto faz parte do desenvolvimento ou exposição do sermão; especificamente, do capítulo III do mesmo, em que Vieira faz os louvores dos peixes em particular (no cap. anterior louvara os peixes em geral).
2.      No início do testo é referido, através do uso do vocativo, o destinatário deste sermão, ou seja: os «moradores do Maranhão», no Brasil. Portanto, este texto destina-se essencialmente aos colonos que habitavam naquela localidade. Todavia, no texto, o autor finge ter-se esquecido de estar a pregar aos peixes em vez de aos homens. É um artifício engenhoso, pois sabemos que no seu sermão, ao louvar ou criticar os peixes, Vieira está de facto a elogiar ou a reprender os seres humanos.
3.      3.1. Expressão que melhor refere a Rémora: «[…] a virtude daquele peixezinho tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder[…]».
4.      A rémora e a língua de Santo António são comparadas pelo poder que ambas têm apesar de serem pequenas. Quer a Rémora quer a língua de Santo António tinham muita força para «domar as paixões humanas», isto é, para guiar o ser humano pelo bom caminho.
5.      A Rémora é um peixe, vive na água do mar; portanto, é natural que enfrente tempestades, que tenha poder, apesar de ser tão pequena, de segurar ou guiar uma «Nau da Índia». Do mesmo modo, mas em sentido figurado, a língua de santo António era uma rémora pois enfrentou e domou «tempestades» em terra, através da pregação da doutrina cristã. O que no texto se refere como naus - «Nau Soberba», «Nau Vingança», «Nau Cobiça» e «Nau Sensualidade» - representa os defeitos ou vícios, isto é, as «paixões» do ser humano.
6.      Resposta livre. Qualquer um dos recursos estilísticos confere mais expressividade ao texto/sermaõ, de modo a torná-lo mais eficaz quando proferido oralmente de um púlpito com o intuito de persuasão. As interrogações retóricas, as frases exclamativas, os paralelismos sintáticos – pela dúvida suscitada, pela emoção expressa ou pela repetição – tornam o texto mais vivo, ritmado e sedutor, interagindo com os ouvintes, apelando à sua atenção e juízo de valor; por outro aldo, o uso de metáforas e antíteses permite concretizar as ideias, exemplificar os argumentos, pela semelhança ou pelo contraste, e desse modo configurando um texto de contrastes, dialogante em si e com o auditório, de todos os tempos.
7.      Neste Sermão, Vieira utiliza a rémora para simbolizar… 7.2) o poder que a palavra do pregador tem de ser guia das almas.

GRUPO II (20 pontos)

No Sermão, o Padre António Vieira decide pregar aos peixes e não aos homens, visto que não obtinha os efeitos desejados da sua pregação, tal como Santo António já o fizera. Vieira, no início do seu texto, menciona a história ocorrida com este em Arimino, onde, quando pregava aos hereges, fora alvo da tentativa de apedrejamento por parte destes. Ao longo do seu texto manifesta admiração por Santo António e este será seu modelo inpirador. Deste modo, tal como Santo António, diz Vieira, «foi sal da terra e foi sal do mar», para criticar a humanidade que estava cada vez mais corrupta, também Vieira decidiu deixar de pregar aos homens e preferiu antes dirigir-se aos peixes. Percebe-se, pois, porque é que no seu sermão as criaturas marinhas simbolizam as virtudes e os defeitos dos homens: quando Vieira começa por apreciar as virtudes dos peixes e depois lhe aponta os defeitos, eles está a tentar corrigir os defeitos humanos através dessa analogia.

GRUPO III – EXPRESSÃO ESCRITA (40 pontos)

8.      Resposta livre. Texto expositivo-argumentativo sobre a importância dos direitos humanos nos nossos dias.

Teste de Português, 11º ano, sobre o «Sermão de Santo António aos Peixes»

GRUPO I – LEITURA (40 pontos)

Leia o seguinte texto e depois responda às questões sobre o mesmo.


“SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES”
de Padre António Vieira

«Ah moradores do Maranhão, quanto eu vos pudera agora dizer neste caso! Abri, abri estas entranhas; vede, vede este coração. Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não vos prego a vós, prego aos peixes.
Passando dos da Escritura aos da história natural, quem haverá que não louve e admire muito a virtude tão celebrada da Rémora? No dia de um santo menor, os peixes menores devem preferir aos outros. Quem haverá, digo, que não admire a virtude daquele peixezinho tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder, que, não sendo maior de um palmo, se se pega ao leme de uma Nau da Índia, apesar das velas e dos ventos, e de seu próprio peso e grandeza, a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante? Oh se houvera uma Rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos haveria na vida e que menos naufrágios no Mundo!
Se alguma Rémora houve na terra, foi a língua de Santo António, na qual, como na Rémora, se verifica o verso de São Gregório Nazianzeno: Lingua quidem parva est, sed viribus omnia vincit. O Apóstolo Santiago, naquela sua eloquentíssima Epístola, compara a língua ao leme da nau e ao freio do cavalo. Uma e outra comparação juntas declaram maravilhosamente a virtude da Rémora, a qual, pegada ao leme da nau, é freio da nau e leme do leme. E tal foi a virtude e força da língua de Santo António. O leme da natureza humana é o alvedrio[1], o Piloto é a razão: mas quão poucas vezes obedecem à razão os ímpetos precipitados do alvedrio? Neste leme, porém, tão desobediente e rebelde, mostrou a língua de António quanta força tinha, como Rémora, para domar a fúria das paixões humanas. Quantos, correndo fortuna na Nau Soberba, com as velas inchadas do vento e da mesma soberba (que também é vento), se iam desfazer nos baixos, que já rebentavam por proa, se a língua de António, como Rémora, não tivesse mão no leme, até que as velas se amainassem, como mandava a razão, e cessasse a tempestade de fora e a de dentro? Quantos, embarcados na Nau Vingança, com a artilharia abocada e os botafogos acesos, corriam enfunados a dar-se batalha, onde se queimariam ou deitariam a pique se a Rémora da língua de António lhes dão detivesse a fúria, até que, composta a ira e ódio, com bandeiras de paz se salvassem amigavelmente? Quantos, navegando na Nau Cobiça, sobrecarregada até às gáveas e aberta com o peso por todas as costuras, incapaz de fugir, nem se defender, dariam nas mãos dos corsários com perda do que levavam e do que iam buscar, se a língua de António os não fizesse parar, como Rémora, até que, aliviados da carga injusta, escapassem do perigo e tomassem porto? Quantos, na Nau Sensualidade, que sempre navega com cerração[2], sem sol de dia, nem estrelas de noite, enganados do canto das sereias e deixando-se levar da corrente, se iriam perder cegamente, ou em Sila, ou em Caríbdis, onde não aparecesse navio nem navegante, se a Rémora da língua de António os não contivesse, até que esclarecesse a luz e se pusessem em via.
Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que também foi Rémora vossa, enquanto o ouvistes; e porque agora está muda (posto que ainda se conserva inteira[3]) se veem e choram na terra tantos naufrágios.»

Questões:


1.      Insira o excerto transcrito na globalidade do “Sermão de Santo António aos Peixes”, do modo mais completo que puder.  (7,5 pontos)

2.      Com base no texto, identifique o destinatário do sermão.    (2,5 pontos)

3.      O orador enuncia as virtudes de um peixe em particular.
3.1.  Transcreva a expressão textual que melhor refere a Rémora.  (5 pontos)

4.      Explique a comparação entre a rémora e a língua de Santo António.    (5 pontos)

5.      Explicite o sentido metafórico da “tempestade” das paixões humanas (as naus) que a língua de Santo António conseguiu acalmar.    (10 pontos)

6.      Dos seguintes recursos estilísticos, escolha um que seja importante na construção deste excerto do sermão e comente a sua expressividade.    (5 pontos) 
Interrogações retóricas; paralelismos sintáticos; metáforas; antíteses; frases exclamativas.

7.      Neste Sermão, Vieira utiliza a rémora para simbolizar… (assinale a única correta):      (5 pontos)
7.1.  um peixe que vivia do oportunismo.  *
7.2.  o poder que a palavra do pregador tem de ser guia das almas.  *
7.3.  o poder que a palavra de Deus tem de fazer tremer os pecadores. *
7.4.  o poder purificador da palavra de Deus.  *



GRUPO II (20 pontos)

 «Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não vos prego a vós, prego aos peixes.»
(início do excerto do teste)


8.      Num breve texto (cerca de 80 – 140 palavras), explique por que motivo no “Sermão de Santo António aos Peixes” o orador decide pregar aos peixes (e não aos homens) e o que representam, na generalidade, as criaturas marinhas. Aluda ao texto do sermão para fundamentar a sua resposta.




GRUPO III – EXPRESSÃO ESCRITA (40 pontos)

Texto
Estruturação temática e discursiva:                     25 pontos
Correção linguística:                                             15 pontos
__________________________
Total:     40 pontos


Leia a seguinte citação sobre a vocação humanista do padre António Vieira:
«A defesa dos direitos humanos, nomeadamente dos índios do Brasil escravizados pelos colonos, bem como dos cristãos-novos perseguidos pela Inquisição, é uma preocupação a que Vieira se manteve sempre fiel até ao fim da sua vida.»
Maria das Graças Moreira de Sá, Introdução a:
Padre António Vieira, Sermões Escolhidos, Lisboa, Ulisseia, 1999.

9.      Redija um texto expositivo-argumentativo bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras, em que apresente a sua opinião sobre a importância dos direitos humanos nos nossos dias.

Discuta o tema, desenvolvendo dois ou três argumentos e ilustrando-os com exemplos.

Nota: Antes de começar a redação do texto, elabore um plano da composição que poderá ser ou não um topic outline (o qual também deverá constar na folha de respostas).



[1] Alvedrio - o livre-arbítrio, ou seja: a faculdade da vontade para se determinar.
[2] Cerração – nevoeiro espesso; escuridão (do tempo).
[3] A língua de Santo António é conservada como relíquia na sua basílica de Pádua.