O sapo e a raposa resolveram e
acordaram fazer uma sementeira a meias.
Fizeram a sementeira,
debulharam-na e arranjaram um belo monte de trigo e outro de palha. Depois de
tudo arranjado foram deitar-se nas suas camas. Logo de manhã ergueu-se a raposa
e foi estar com o seu vizinho e compadre sapo e disse-lhe:
— Compadre e
amigo, venho fazer-lhe uma proposta vantajosa.
— Diga lá.
— Vamos ambos ao mesmo tempo até
à eira, e o que lá chegar primeiro fica com o trigo todo.
—
Olhe, minha comadre, fiz umas juras de nunca aceitar propostas sem ouvir
os conselhos de um meu colega. Volte a comadre daqui a uma hora.
A raposa afastou-se e o sapo foi
estar com outro sapo e expôs-lhe a proposta da raposa.
— A coisa arranja-se e a raposa
há de cair, apesar da sua malícia —
respondeu-lhe o colega consultado.
— De que modo?
—
Somos ambos iguais e tão semelhantes que a raposa já não é capaz de nos
diferençar. Eu parto já para a eira e trato de ensacar o trigo. Tu vais estar
com a raposa e, depois de longa discussão, aceitas a proposta. Não dês porém
sinal de partida, enquanto eu não estiver na eira. Quanto à palha, podemos
dar-lha toda; no entanto, vou esconder-lhe dentro um cão para bem a receber
quando ela for tomar posse da palha.
O sapo ficou satisfeito com a
lembrança do colega e foi para sua casa esperar a raposa. Esta não se demorou
muito.
Discutiram ambos por algum tempo
e no final o sapo fingiu que cedia. À hora marcada a raposa dirigiu-se para a
eira de corrida. Quando chegou ali, já o sapo tinha o trigo metido nos sacos.
— Mas como andou o meu compadre
tão depressa? — observou a raposa,
despeitada.
—
Fiz das pernas coração, comadre — respondeu o sapo —, mas como sou muito
seu amigo, cedo-lhe de boa vontade toda a palha, embora esta não entrasse no
contrato.
A raposa, de bico caído, aceitou
a proposta e dirigiu-se para o monte da palha a experimentar se estava
bem moída. Salta de lá o cão e deu-lhe tamanha corrida que a raposa morreu
arrebentada.
Ataíde de Oliveira
(recolha),
in Contos tradicionais portugueses.
Vol. 1, Porto: Figueirinhas, 1975.
ATIVIDADE - A MORAL DA HISTÓRIA
(do manual, p. 24)
Discute com os teus colegas a moralidade (lição moral) da
fábula “O sapo e a raposa”.
Proposta de discussão a partir dos seguintes provérbios (podes acrescentar mais):
Quem ri por último ri
melhor.
Ladrão que rouba a
ladrão tem cem anos de perdão.
Com raposa é bom ser
manhoso.
Sabe muito a raposa,
mas quem a apanha sabe mais.
Mais vale engenho que
força.
Lê aqui
outra versão desta fábula, reescrita por António Torrado e ilustrada por
Cristina Malaquias.