ESCOLA
SECUNDÁRIA MIGUEL TORGA
2017-2018
Comentário ao livro:
O Fantasma de Canterville, de Oscar Wilde
Trabalho escrito de Português
de
José Carlos Santos, n.º 30 [fictício]
Índice
3. Referência bibliográfica da obra escolhida, p. 2
4. Apresentação do autor, p. 3
5. Comentário acerca do livro, p. 4
6. Apreciação pessoal da obra, p. 7
7. Referências, p. 8
3. Referência bibliográfica da obra escolhida
WILDE, Oscar – O fantasma de Canterville. Trad. de Maria Manuela Novais Santos; ilustração de Ângela Vieira. Porto: Porto Editora, 2014.
O conto de Oscar Wilde foi
publicado pela primeira vez num livro de contos, em 1891, intitulado Lord Arthur Savile's crime and other stories / O
crime de Lorde Arthur Savile e outras histórias.
Este livro continha os seguintes
quatro contos: “O crime de Lord Arthur Savile”, cujo título é utilizado para designar a coletânea de
contos; “O fantasma de Canterville”, o conto agora em estudo; “A esfinge sem
segredo”; “O milionário modelo”. Posteriormente é adicionado o conto “O
retrato do Sr. W. H.”
São contos semicómicos de
mistério; há várias traduções em português e a biblioteca da nossa escola tem
três exemplares, com boas ilustrações. A referência aqui apresentada é a da
edição que existe na biblioteca.
4. Apresentação do autor
O escritor desta história, Oscar
Wilde, nasceu em Dublin, na Irlanda, em 1854 e morreu em Paris, em 1900. Muitas
das histórias, peças de teatro e poemas que Oscar Wilde escreveu continuam a
conquistar leitores em todo o mundo.
O seu pai era um reconhecido
médico e a sua mãe escreveu poesia. Filho de pais excêntricos, ele também
cultivará a originalidade. Quando jovem, de figura alta e graciosa, chamava a
atenção para a sua aparência e modo de vestir. Depois de ter estudado no Trinity
College, sai de Dublin para estudar em Oxford, onde estuda latim e grego. Aí começa
a desenvolver um estilo de vida que caracterizará os membros do movimento
esteta, o esteticismo ou dandismo. Oscar Wilde é um dândi (do inglês dandy), pois as suas maneiras, o seu
modo de vestir fora do comum e a sua defesa da “arte pela arte” (a arte não tem
que ter uma utilidade) assim o demonstram.
Quando já morava em Londres e se
tornou um escritor de sucesso (em 1878 ganhou o Prémio Newdigate pelo seu poema
“Ravenna”) é também uma figura de êxito na sociedade inglesa. Excelente conversador,
divertido, ele era a alma das festas para que era requestado. As pessoas
tentavam imitar as suas roupas sensuais de veludo e os seus aforismos
humorísticos e brilhantes.
Casa-se, em 1884, com Constance
Lloyd, uma irlandesa rica. Tiveram dois filhos e Wilde escreve para eles O príncipe Feliz e outras histórias
(1885). Em 1881 já publicara o seu primeiro livro de poemas e em 1890 publicará o famoso O Retrato de Dorian Gray,
posteriormente adaptado para filme.
Wilde faz críticas de arte e
comentários de livros para revistas e jornais, dá conferências em Inglaterra e
na América e, com o passar do tempo, consagra-se ao teatro, tornando-se o maior
autor de comédias em Inglaterra. Os
teatros enchiam-se com o público que ia ver as suas peças, tais como O
leque de Lady Windermere
(1892), Uma mulher
sem importância (1893), Um marido ideal (1895) e a sua
obra-prima A vantagem de se chamar Ernesto (1895).
Wilde conviveu com as
pessoas ricas e famosas do seu tempo; era um escritor de grande sucesso e,
sobretudo, feliz, mas subitamente a sua vida mudou. Ele tinha um amigo
especial, um homem chamado Alfred Douglas, e o pai deste não gostou do
interesse particular de Wilde pelo seu filho. Começa uma luta terrível em
tribunal e Wilde perde. Em 1895, foi condenado a dois anos de prisão. A
vida num estabelecimento prisional de então era muito difícil e a sua saúde
ressentiu-se.
Quando saiu da prisão em 1897,
foi morar em França, passando a usar o nome “Sebastian Melmoth”. Aí ainda
escreve o famoso poema intitulado The
Ballad of Reading Gaol, sobre o sofrimento da vida encarcerada.
Pobre, doente, falido e exilado,
morre em Paris em 1900. É inacreditável como um dos autores mais lidos e um dos
grandes espíritos da história da literatura mundial pode terminar tão
tragicamente.
Para terminar, gostaria de
salientar que Oscar Wilde foi um mestre em criar frases brilhantes, muitas
vezes irónicas ou mesmo cínicas.
Quando eu era jovem, pensava que o dinheiro era a coisa mais importante do mundo. Hoje, tenho a certeza.
Se há no mundo alguma coisa mais irritante do que sermos alguém de quem se fala, é ninguém falar de nós.
Um retrato pintado com a alma é um retrato, não do modelo mas do artista.
Viver é a coisa mais rara do mundo – a maioria das pessoas apenas existe.
5. Comentário acerca do livro
Trata-se de um conto literário, tal como é definido no
manual de Português do 9.º ano: uma narrativa simples, com uma extensão
reduzida (por comparação com o “romance”) e um número restrito de personagens
(p. 63).
De acordo com o título do conto, parece ser o retrato
de uma personagem, a personagem
principal que é o Fantasma de Canterville, pois é à volta dele que gira
toda a ação (definição de personagem tirada do manual, p. 62). Todavia, de
acordo com a minha leitura, vou defender que a personagem central é a família
americana.
Em primeiro lugar, gostaria de
sintetizar a ação, mas sem esgotar o
assunto. Quando o diplomata americano Hiram B. Otis compra o antigo casarão a
Lord Canterville, as pessoas tentam avisá-lo de que corre perigo. Todos sabem que o castelo está assombrado por uma alma do outro mundo, o famoso fantasma de Canterville – o fantasma de Sir Simon de Canterville que, em 1665, assassinara a própria esposa.
Todavia, o Sr. Otis e a sua família americana não acreditam em fantasmas ou parecem não se importar de partilhar a sua nova casa com um fantasma. Tudo é divertido, até quando limpam todos os dias a misteriosa mancha de sangue no chão da biblioteca e ela aparece de novo no mesmo lugar na manhã seguinte.
Nesta história, o fantasma vê o feitiço virar-se contra o feiticeiro: na casa em que habitava e há muito tempo assombrava tudo e todos, ele é que passa a ser aterrorizado pelos seus novos proprietários. O fantasma torna-se cada vez mais infeliz. Embora tente várias aparições posteriores, estas correspondem a sucessivos falhanços. Apesar de ser sua obrigação assombrar o casarão, os dois irmãos gémeos pregam-lhe terríveis partidas, sem medo algum.
Passo de seguida à identificação
das personagens, com destaque para a família americana.
Existem duas famílias: a
dos Otis, americana, e a dos Canterville, inglesa. A primeira é mais numerosa e
com mais pessoas “vivas”. É composta pelo pai
– Hiram B. Otis, o senhor Otis, ou também designado como “o diplomata
americano”, “o americano”, “o americano e a família”, “o diplomata”. É ele que
compra a casa e que conduz a família para viver nela; a mãe – Lucretia R. Tappan, a
senhora Otis, também designada como “a esposa do diplomata”, “a americana”. O
casal tem quatro filhos: Washington Otis,
“o filho mais velho”; “Miss Virginia E. Otis”, a filha e irmã mais
velha; e os dois irmãos mais novos: “os gémeos”, ironicamente descritos como
“rapazes simpaticíssimos”.
A segunda família, com quem irá
interagir a primeira, é a dos Canterville e esta surge enquadrada ou mesmo encarcerada
no casarão ou castelo assombrado. São mais os mortos que os vivos. O mais
antigo de que se tem conhecimento é Sir Simon de Canterville, que assassinara a
mulher, vivera mais nove anos após esse acontecimento macabro e acabara por
desaparecer misteriosamente (não se sabe do corpo, mas alma vagueia no
castelo). É ele o Fantasma de Canterville, ou melhor, a sua “alma penada”. Lady
Eleanore de Canterville era a sua esposa, assassinada em 1575. Fala-se de
passagem da Duquesa de Bolton, tia-avó de Lorde Canterville, mas é este último
descendente que – depois do fantasma –
assume maior relevo. Lorde de
Canterville pertence à “aristocracia britânica”, ao “Mundo Velho”, e é ele quem vende a mansão, com o fantasma
da família lá dentro, ao Sr. Otis.
Se Lorde de Canterville é um elemento de ligação entre as duas
famílias, também a Sra. Umney, “uma criada velha” ou governanta, estabelece a
ponte entre ambas. Todavia, ela é agoirenta e assustadora. Em absoluto
contraste com esta personagem secundária
(de acordo com o manual, p. 62) que se confunde com o inquietação do castelo e
o fantasma dos Canterville, temos “o moço duque de Chesire”. Ele é jovem,
saudável, corajoso e representa o amor em relação a Miss Virginia. Ele é do
“Mundo Velho”, pois é um aristocrata inglês; ela é do “Mundo Novo”, uma jovem
americana. Ao casarem no final da história talvez esse fato represente a união
dos dois mundos, das duas culturas.
Agora ser-me-á mais fácil
defender porque é que considero que a personagem central é a família americana.
Argumentarei com razões simples.
1. Quem compra e
vai viver no castelo dos Canterville são os americanos;
2. O conto começa
com a compra do casarão pelo pai e termina com o casamento da filha, duas
gerações em continuidade;
3. Quem sai
“derrotado” das assombrações é o velho fantasma dos Canterville;
4. Quem fica com as
joias (herança) dos Canterville é Virginia;
5. Quem enfrenta os
obstáculos ou desafios, ultrapassando-os, é a família americana;
6. Quem “morre”
(passa para outra dimensão) é o fantasma; Virginia (sobre)vive e vive o amor,
também através do casamento.
Se, de acordo com o manual
referido, a personagem secundária “tem um papel de menor relevo, auxiliando a
personagem principal”, tanto podemos dizer que Miss Virginia ajudou o Fantasma
a conseguir o desejado descanso como podemos dizer que o foi o fantasma que
possibilitou a Miss Viriginia a ultrapassagem dos seus medos. Esta pertence à
família americana, ao mundo novo; ela vem viver na mansão, cresce interiormente
e casa-se. A história termina com ela. Ao casar com o duque de Chesire no final
da história, como dissemos, talvez esse fato represente a união dos dois
mundos, das duas culturas, do masculino e do feminino, a unidade, a harmonia.
Citação da obra que considerei interessante:
“Quando chegar a rapariga
E com os seus puros lábios diga
Certa oração, que as pedras faz
Chorar de pena, então, então,
Silêncio e amor do Céu virão
E Canterville terá paz.”[1]
6. Apreciação pessoal da obra
Há duas ideias de que gostei
quando reli o conto.
1.
Uma é a do cómico experimentado
durante a leitura e que resulta do contraste entre o que o autor chama de
“Velho Mundo” (a Europa, a Inglaterra) e o “Novo Mundo” (os Estados Unidos da
América). Enquanto o velho mundo é caraterizado por um casarão antigo e
fantasmagórico que representa a velha e afetada aristocracia inglesa (a família
dos Canterville, incluindo o fantasma de um assassino), o novo mundo está
associado ao “novo”, à coragem e ousadia de uma família que viaja para um novo
continente e inicia uma nova vida (a família do Sr. Otis, relacionada também
com os “empresários americanos”).
Divertimo-nos constantemente com
a reação de uma família americana, oriunda de “um país onde se adquire tudo com
dinheiro”, materialista e prática, que, em vez de ser vítima de um fantasma, lhe
prega partidas e não mostra o menor temor – já no final da ação, Miss Virgínia até o ajuda
a conseguir deixar o seu caminho penoso e a atingir o descanso tão desejado. As
leis da natureza (a racionalidade, a ciência) opõem-se à espiritualidade da
aristocracia (o irracional, a convenção do “sangue azul”). Acreditar em
fantasmas ou não acreditar em fantasmas? Ter medo ou ter coragem? Viver uma
vida saudável e plena ou viver aterrorizado e doente? Oscar Wilde é irlandês e
tanto parece caricaturar o modo de ser americano como o modo de
ser da aristocracia inglesa – assunto da sua história fantástica, de fantasmas.
2.
Outra ideia implica uma leitura
diferente do conto, a um nível mais profundo. O castelo dos Canterville e todos
os fantasmas que nele habitam representam os medos, os obstáculos que o ser
humano ainda jovem tem de enfrentar e ultrapassar para conquistar a vida adulta. Quem protagoniza essa passagem
da juventude à idade adulta é Miss Virginia. Ela, tal como a família, saiu do
conforto e segurança da anterior casa para entrar no desconhecido do casarão
dos Canterville; ela passeia com o namorado e rompe a roupa que levava vestida
e, no seguimento dessa ocorrência, conversa com o fantasma; ela comove-se com a
história do fantasma de Canterville e decide ajudá-lo. No final, o funeral
condigno de Sir Simon de Canterville (o corpo da alma penada) contrasta com o
casamento de Mr. Virginia com o duque de Chesire: é preciso a morte para haver o
amor, é preciso “enterrar” os fantasmas para viver plenamente a vida!
Ilustração de Robert Geary |
7. Referências
- “Dândi”, entrada, em Wikipédia, a enciclopédia livre (em língua portuguesa), consultado em 15.10.2017.
- “Oscar Wilde”, entrada, em Wikipédia, a enciclopédia livre (em língua portuguesa), consultado em 15.10.2017.
- “Oscar Wilde”, entrada, em Wikipedia, the free encyclopedia (em língua inglesa), consultado em 15.10.2017.
- Oscar Wilde online. – site, em língua inglesa.
- FERREIRA, Ida Lisa et al., “Ficha informativa 3 - O modo narrativo”, in Português 9.º ano. Barcarena: Santillana, 2013, pp. 62-63.