"Carta de Amor", por Maria Bethânia
Vídeo oficial da faixa "Mensagem", do DVD "Carta de Amor" (no Youtube).
“O show vem do disco, é a base de onde eu parti, da mudança sonora que fiz ali, com vários músicos. O título do show não se refere apenas à faixa do disco ´Carta de Amor´, mas a todo tipo de amor que canto no show: o amor maduro, o amor inconstante, o amor traído, o amor eterno, o passageiro, o triste, o alegre...” - Maria Bethânia
Letra:
E o meu nome gritou
Com uma carta na mão
Ante surpresa tão rude
Nem sei como pude
chegar ao portão
Lendo o envelope bonito
O seu sobrescrito
eu reconheci
A mesma caligrafia
que me disse um dia
"Estou farto de ti"
Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: "será de alegria ou será de tristeza?"
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais
Todas as cartas de amor são ridículas
Não seriam cartas de amor, se não fossem ridículas
Também escrevi, no meu tempo, cartas de amor como as outras, ridículas
As cartas de amor, se há amor, têm que ser ridículas
Quem me dera o tempo em que eu escrevia, sem dar por isso, cartas de amor ridículas
Mas afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas
Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: "será de alegria ou será de tristeza?"
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais
Quanto a mim o amor passou
Eu só lhe peço que não faça como gente vulgar
E não me volte a cara quando passo por si
Nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor
Fiquemos um perante o outro
Como dois conhecidos desde a infância
Que se amaram um pouco quando meninos
Embora na vida adulta sigam outras afeições
Conserva-nos, escaninho da alma, a memória de seu amor antigo e inútil
In: Acção, Lisboa, n.º 41 (6.03.1937); reprod. em Poesias de Álvaro de Campos / Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
Lendo o envelope bonito
O seu sobrescrito
eu reconheci
A mesma caligrafia
que me disse um dia
"Estou farto de ti"
Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: "será de alegria ou será de tristeza?"
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais
Todas as cartas de amor são ridículas
Não seriam cartas de amor, se não fossem ridículas
Também escrevi, no meu tempo, cartas de amor como as outras, ridículas
As cartas de amor, se há amor, têm que ser ridículas
Quem me dera o tempo em que eu escrevia, sem dar por isso, cartas de amor ridículas
Mas afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas
Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: "será de alegria ou será de tristeza?"
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais
Quanto a mim o amor passou
Eu só lhe peço que não faça como gente vulgar
E não me volte a cara quando passo por si
Nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor
Fiquemos um perante o outro
Como dois conhecidos desde a infância
Que se amaram um pouco quando meninos
Embora na vida adulta sigam outras afeições
Conserva-nos, escaninho da alma, a memória de seu amor antigo e inútil
"Todas as cartas de amor são / ridículas"
Poema de Fernando Pessoa
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).
Álvaro de Campos / Fernando Pessoa, 21.10.1935.
Fonte do texto: Arquivo Pessoa.