“Sermão de Santo António aos peixes” (1654)
do Padre António Vieira
Compreensão/Interpretação 3 (pp. 62-63) – cap. III
1. Elogio dos
peixes em particular. Esquema de acordo com o texto.
Identificação
do peixe
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Virtude(s)
do peixe
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Analogia com
Santo António
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Crítica
aos homens
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Peixe de Tobias
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O fel do peixe curava a cegueira e o seu coração
expulsava os demónios.
[fé/virtude; bondade]
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S. António fazia os homens ver a virtude (Bem) e
afastar-se do pecado (Mal).
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Perseguiram S. António (tal como os moradores do
Maranhão perseguem Vieira). Os homens não queriam ver a verdade e agiam com
maldade.
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Rémora
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Apesar de ser pequeno, conseguia determinar o rumo
da nau.
[força (de vontade)]
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A língua de S. António era uma rémora na terra –
tinha força para dominar as paixões humanas: a soberba, a vingança, a cobiça
e a sensualidade.
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Os homens deixam-se levar pela soberba, a vingança,
a cobiça e a sensualidade.
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Torpedo
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Faz tremer o braço do pescador .
[converter/mudar]
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S. António também fazia os homens “tremer” e
arrependerem-se.
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Os pescadores representam aqueles que se aproveitam
do poder para satisfazer a sua ganância.
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Quatro-olhos
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Tem dois pares de olhos: um olha para cima e o outro
olha para baixo.
[visão/iluminação]
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S. António também ensina aos homens que devem pensar
no Céu e no Inferno.
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No Brasil, muitas pessoas vivem na “cegueira”, i.e.,
em pecado, há muito tempo.
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2. «Abri, abri
estas entranhas; vede, vede este coração» (l. 52) - Com este pedido, o Padre
António Vieira pretende que os moradores do Maranhão percebam que ele, à semelhança
de Santo António (e do Peixe de Tobias), apenas pretende, no seu íntimo, curar
a cegueira dos seus ouvintes e libertá-los do mal.
3. e 3.1. Os
recursos estilísticos são a alegoria,
a interrogação retórica e o paralelismo.
Como exemplo de alegoria e de interrogação
retórica, temos:
«quantos,
correndo Fortuna na nau Soberba, com as velas inchadas do vento e da mesma soberba
(que também é vento), se iam desfazer nos baixos, que já rebentavam por proa,
se a língua de António, como rémora, não tivesse mão no leme, até que as velas se
amainassem, como mandava a razão, e cessasse a tempestade de fora e a de dentro?»
O paralelismo
é evidente no excerto que se segue:
«quantos, embarcados
na nau Vingança, com a artilharia abocada e os bota-fogos acesos, corriam
enfunados a dar-se batalha, onde se queimariam ou deitariam a pique, se a rémora
da língua de António lhe não detivesse a fúria, até que […], aliviados da carga
injusta, escapassem do perigo e tomassem porto?»
Vieira recorre à alegoria (num sermão todo ele alegórico)
para ilustrar de forma mais percetível ao seu auditório os pecados mais comuns e
o modo como a língua de Santo António (e a sua própria) salva os pecadores. Esta
alegoria surge combinada com a interrogação retórica e o paralelismo para reforçar
a sua tentativa de cativar os ouvintes.
Exercício de vocabulário (do professor)
Relê os parágrafos referentes ao peixe Rémora (pp. 59-60). Em cada termo que se segue (a negro e à
esquerda):
a) circunda uma das palavras à direita, a que tenha o valor mais aproximado
da palavra usada no texto;
b) circunda a palavra à direita que é estranha ao significado da palavra
usada no texto.
Nota: Todas as quatro hipóteses foram pesquisadas num dicionário de
sinónimos.
Soberba (linha 74) — altivez/arrogância/luxúria/vaidade
Vingança (linha 79) — represália/ sofreguidão/ofensa/punição
Cobiça (linha 83) — ambição/avidez/orgulho/ânsia
Sensualidade (linha 87) — castigo/volúpia/lascívia/lubricidade
4. Quadro, de
acordo com o texto.
Naus
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Elementos caracterizadores
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Simbologia dos elementos caracterizadores
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Efeitos da língua de Santo António
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«Nau Soberba»
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«velas inchadas do vento»
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O vento simboliza o caráter vão do pecado da
soberba, i.e., do orgulho desmedido
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Leva as velas a amainarem e a tempestade
interior e exterior a terminar
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[1]
«Nau
Vingança»
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[2]
«artilharia
abocada»; «bota-fogos acesos»; «enfunados»;
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[3]
O arsenal de
guerra pronto a disparar e o facto de avançarem «enfunados» simbolizam a
fúria e a impetuosidade que arrastam as pessoas que se movem pelo desejo de
vingança;
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[4]
Detém a
fúria, acaba com a ira e o ódio e faz a nau içar bandeiras de paz;
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[5]
«Nau
Cobiça»
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[6]
«sobrecarregada
até às gáveas»; «aberta com o peso por todas as costuras»; «incapaz de fugir,
nem se defender»;
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[7]
a carga excessiva
simboliza o resultado da cobiça, que leva os homens a acumularem demasiados
bens materiais;
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[8]
Salva a nau
(que, pela sua carga excessiva, não podia fugir nem defender-se) dos ataques
dos corsários que a levariam a perder o que tinha e o que desejava obter;
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[9]
«Nau
Sensualidade»
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[10]
«sempre
navega com cerração, sem sol de dia, nem estrelas de noite»; os seus
ocupantes navegam «enganados do canto das sereias»; «deix[a-se] levar da
corrente»;
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[11]
a cegueira e a desorientação simbolizam o que
sucede aos que se deixam levar pela sensualidade – não tendo domínio sobre si
próprios, caem facilmente em tentação;
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[12]
Impede a nau
de naufragar, levando os seus ocupantes a readquirirem a capacidade de ver e
a voltarem a assumir o rumo certo.
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4.1 Os peixes são
louvados por alimentarem todos os que vivem em austeridade para chegarem ao Céu,
os cristãos ao longo da Quaresma e o próprio Cristo depois de ter ressuscitado.
Nos dias da semana em que devia ser praticada abstinência, as refeições podiam
ser de peixe. Peixes como a sardinha garantem o sustento dos pobres.